terça-feira, 12 de junho de 2012

Minha querida Âncora (...)


Observo do banco do jardim a cidade que me viu crescer, a que mais me deu alegrias.
 Recordo com frequência os fins de tarde quentes, em que passeava pelas suas ruas. Vila Praia de Âncora irá ter sempre o meu coração fixo às suas margens. Os meus olhos irão ser sempre o céu azul dos dias amenos, mas as saudades, essas irão ser sempre as tempestades do mar que banha a cidade e que por vezes entra furioso praia a dentro, como se existisse uma certa raiva por não poder estar perto… Os barcos da pesca irão ser sempre o meu sangue, o sangue que me percorre as veias e faz bater o meu coração tal como ele batia de alegria quando via o meu pescador preferido. O Forte do Cão, é dele que me recordo quando me tento proteger dos ataques de piratas dos dias de hoje. O Calvário, o Calvário que me faz ver a paisagem por completo… Relembro as fotos de memória que tirei no Calvário com o olhar apaixonado pelo pôr-do-sol e pela imagem que ficara sempre na minha lembrança. Aquela ponte… A ponte da praia, que corria para chegar a mais um dia de diversão e que me arrastava de cansada para partir de novo para casa. As dunas… Aquelas dunas que hoje fazem lembrar os altos e baixos da vida. Recordo-me dos dias em que nos rochedos procurávamos as estrelas-do-mar, e o marisco, que por vezes merendávamos.
As pessoas que deixo aí… A todas elas que andam sempre no meu coração, que me recebem sempre de braços abertos… Que saudades tenho eu de correr para os vossos braços, que saudades tenho eu de ver os vossos rostos, alguns com rugas do tempo já passado, mas nem por isso deixarão de ter a beleza que têm para mim… O perfume de maresia que percorre as ruas, as ruas, essas conheço-as como a palma da minha mão, irão ser sempre algo que recordo com muito carinho. E as roscas? Essas roscas açucaradas que ainda hoje me fazem crescer água na boca.

E a vossa pronúncia, essa que me apaixona sempre que oiço alguém dessas zonas, essa pronúncia que se tornava parte da minha linguagem só de vos ouvir por uns dias.

E as festividades? A festa da Nossa Senhora da Bonança em que me lembro nos meus tempos de inocência de percorrer as ruas vestida de anjo como se fosse filha da cidade… E o Carnaval? Todos aqueles cabeçudos acompanhados de tambores que me faziam tremer de medo por serem tão grandes… Lembro-me com frequência de todos os momentos musicais que vivi por lá, quer fosse dentro ou fora de casa. A feira do livro foi naquela altura o que me despertou a paixão pela literatura, e a isso agradeço-te por seres uma cidade tão rica em cultura, que fez de mim a mulher culta que sou hoje.

Minha querida cidade, assim pudesse eu viver todos os segundos da minha vida em ti.

Joane Marie♥


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