Observo do banco do
jardim a cidade que me viu crescer, a que mais me deu alegrias.
Recordo com frequência os fins de tarde
quentes, em que passeava pelas suas ruas. Vila Praia de Âncora irá ter sempre o
meu coração fixo às suas margens. Os meus olhos irão ser sempre o céu azul dos
dias amenos, mas as saudades, essas irão ser sempre as tempestades do mar que
banha a cidade e que por vezes entra furioso praia a dentro, como se existisse
uma certa raiva por não poder estar perto… Os barcos da pesca irão ser sempre o
meu sangue, o sangue que me percorre as veias e faz bater o meu coração tal
como ele batia de alegria quando via o meu pescador preferido. O Forte do Cão,
é dele que me recordo quando me tento proteger dos ataques de piratas dos dias
de hoje. O Calvário, o Calvário que me faz ver a paisagem por completo… Relembro
as fotos de memória que tirei no Calvário com o olhar apaixonado pelo pôr-do-sol
e pela imagem que ficara sempre na minha lembrança. Aquela ponte… A ponte da
praia, que corria para chegar a mais um dia de diversão e que me arrastava de
cansada para partir de novo para casa. As dunas… Aquelas dunas que hoje fazem
lembrar os altos e baixos da vida. Recordo-me dos dias em que nos rochedos procurávamos
as estrelas-do-mar, e o marisco, que por vezes merendávamos.
As pessoas que deixo aí…
A todas elas que andam sempre no meu coração, que me recebem sempre de braços
abertos… Que saudades tenho eu de correr para os vossos braços, que saudades
tenho eu de ver os vossos rostos, alguns com rugas do tempo já passado, mas nem
por isso deixarão de ter a beleza que têm para mim… O perfume de maresia que
percorre as ruas, as ruas, essas conheço-as como a palma da minha mão, irão ser
sempre algo que recordo com muito carinho. E as roscas? Essas roscas açucaradas
que ainda hoje me fazem crescer água na boca.
E a vossa pronúncia, essa que me apaixona sempre que oiço
alguém dessas zonas, essa pronúncia que se tornava parte da minha linguagem só
de vos ouvir por uns dias.
E as festividades? A
festa da Nossa Senhora da Bonança em que me lembro nos meus tempos de inocência de
percorrer as ruas vestida de anjo como se fosse filha da cidade… E o Carnaval?
Todos aqueles cabeçudos acompanhados de tambores que me faziam tremer de medo
por serem tão grandes… Lembro-me com frequência de todos os momentos musicais
que vivi por lá, quer fosse dentro ou fora de casa. A feira do livro foi
naquela altura o que me despertou a paixão pela literatura, e a isso
agradeço-te por seres uma cidade tão rica em cultura, que fez de mim a mulher
culta que sou hoje.
Minha querida cidade, assim pudesse eu viver todos os
segundos da minha vida em ti.
Joane Marie♥

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